Por que ir à Roma, a Cidade Eterna?!

“Só em Roma é possível compreender Roma. ”

Johann Wolfgang von Goethe – Viagens à Italia (1816)
 
natale by mea - A cidade eterna: Roma

Piazza Veneza, por Carlo Mea (instrutor de Yoga Método De Rose em Roma)

Por que Europa? Europa geografia, Vaticano, exército romano, todos conheçemos um lado, um pouco, Europa berço da civilização, berço do cristianismo

Por que visitar a Itália?

Todos nos sabemos um pouquinho sobre a ela: é de lá que vem a nossa cultura, foi lá que nasceu o Cristianismo, Roma foi a capital de um dos maiores impérios que o nosso planeta ja viu, o latim e o grego são a origem da nossa língua!

MACARRAO - A cidade eterna: Roma
Pasta con porcini: hmmmmm!

Quando era uma jovem estudante de Artes Plásticas na Alemanha, todos os professores amavam a Itália e nos incentivavam a ir explorá-la.

Foi numas férias de verão que fui parar na Suíça, na casa de uma artista brasileira que mora la, e por acaso conheci uma pessoa que estava indo comprar materiais para fazer chapéus na costa do Adriático. Ela me ofereceu “uma carona” para atravessar os Alpes e achei que tinha chegado o grande momento. O percurso dela seria sair de Genebra, ir a Milão, Firenze, e lá nos nos despediríamos e ela iria em direção ao Adriático e eu tomaria um trem para Roma.

No carro, a amiga, que era brasileira de origem italiana, ia me dando aulas de italiano e contando o que eu tinha que visitar na próxima parada. Em Milão ficamos uns 2 dias. Como todos os jovens estudantes, me hospedei num albergo da juventude, o mais barato que se pode encontrar, e de dia fui ver o Duomo. Naquele período tinha um discman, isto é, ainda não existiam os ipods e eu ouvia música de cds, e estava com uma fixação pela “Stabat Mater” de Pergolesi. Colocava aquilo nos ouvidos de manhã, apertava “repeat”, e ia assim o dia inteiro, com pequenas pausas para comprar os tickets para os ônibus, o sanduíche (panino em italiano) e a água para o almoço. Coisa de gente doida, né?! Mas eu não fazia mal a ninguém, estava de férias e tinha que solidificar os meus conhecimentos sobre o berço da Arte – sim, por que toda a base da Arte dos nossos dias é intimamente ligada à arte cristã. Eu estava para mergulhar num mundo que nem imaginava que poderia me interessar um dia!

ss frecoes - A cidade eterna: Roma
Afrescos em Santo Estevão Rotondo na Cidade Eterna

Depois de um mês, ja estava craque: crucifixao ao contrário: S. Pedro; santo com flechas no corpo, S. Sebastião; já tinha até elegido a minha cena preferida da Bíblia, que era a Anunciação! Adorava o anjinho que vem à Maria com uma flor de lírio nas mãos, símbolo de fé e esperança, para dizer que ela vai ter um filho de Deus. E aí entao estava bem encaminhada para entender toda a simbologia do cristianismo do Renascimento que ia ver em Roma – a Cidade Eterna!
Palazzo Sforzesco (pietà Rondanini), a última ceia de Leonardo (que precisa rservar com antecedência!), La Pinacoteca di Brera, os Navigli.

Em Milão foi bem rápida a parada, pois a amiga ia ficar só dois dias; nos demos um lugar marcado para a partida e la nos fomos para Firenze. Esta viagem foi bem divertida. Ela conhecia bem mesmo Firenze e estava preocupadissima comigo, para que eu aproveitasse o máximo! Quanto às igrejas, disse para visitar, além do Duomo , “Santa Croce” e “Santa Maria Novella”. Giardini di Boboli e sorvete no Ponte Vecchio. Os Ufizzi, o Davi e os escravos de Michelangelo, Palazzo Pitti e Piazza della Signoria. “Ah, e quando os italianos te encherem o saco na rua, responda ‘Lascia perdere!’, assim te deixam em paz e vêem que vocè nao é boba e fala a língua deles”. Achei ótimo isso, pois estava na Alemanha ja faziam dois anos e tinha me esquecido como se comportavam os latinos na rua.

Ainda nao entendia por que ela se preocupava tanto que eu comprasse o meu sanduíche no lugar que ela tinha indicado com tanta precisão…pois é, só depois de um pouco de tempo na Itália é que voce “afina o paladar” e começa a entender o valor dessas coisas. E isso veio bem depois e com o tempo: quando tive a sorte de morar com um casal de amigos mais velhos, Maria Vittoria e Nicola, toscanos e de ótimo gosto! Mas mesmo assim, durante a viagem, tentava seguir as indicações da amiga!

Chegando em Firenze, “vi o que tiha que ver”, nos despedimos e depois de 3 dias bem aproveitados, segui de trem para Roma… Roma…, a Cidade Eterna,  aquela cidade que tinham me contado tantas histórias… aquela cidade que é tão grande que é a nossa própria história!

Cheguei dia 1° de Julho – ninguém merece chegar em Roma naquela data pelo tanto de calor que faz – utilizei a mesma estratégia estudantesca que tinha utilizado até então: procurei o albergue da juventude e fui deixar as minhas coisas para explorar a cidade. Girando, girando, fui parar no correio, para comprar um cartão telefônico e estava procurando um quartinho para alugar, pois tinha a sensação que ia ficar até o final das férias. Enquanto tentava decifrar o jornal “Porta Portese” em italiano e chegava à óbvia conclusao que a língua é muito parecida, mas é muito diferente da nossa, conheci por acaso na fila um professor de italiano chamado Roberto Tartaglione, que disse que sabia de uma senhora que alugava quartos, pois ele recebia muitos estudantes gregos e tinha que saber aonde acomodá-los. Assim, saí do correio com a promessa de um quarto e de aprender italiano na escola dele, que eu recomendo: Scudit, Scuola d’Italiano Roma, site www.scudit.net.

Quando fui ver o quarto, o professor me deu uma carona de moto e descemos a Via Nazionale, passando pela Piazza Venezia, para entrar na Via del Corso e chegar na Via della Croce. Bom, neste percurso de 15 minutos, até o ser humano menos interessado por Roma, a Cidade Eterna, pela história da humanidade, ficava chocado com a beleza e o charme da cidade! O quarto era ca-rís-si-mo, mas como eu ia ficar um mês lá, valia a pena e paguei 700.000 liras em 1997!

Estava então acomodada bem perto da Piazza di Spagna, num predinho velho, caindo aos pedaços e o apartamentinho nao fugia à regra, e caía aos pedaços também. Lá moravam 4 garotas islandesas bem mais jovens do que eu, que era ainda muito jovem naquele período! – as futuras colegas de república, que matavam aula de italiano sempre (eu não!), ficaram logo minhas amigas e me levaram logo para ver o Pantheon na primeira noite; aliás, elas estavam me levando num barzinho que se chamava Jonathan’s Heart, atrás da Piazza Navona, perto da Piazza del Fico, mas passamos na frente do Pantheon, t-o-d-o iluminado – que encanto de cidade, eu pensava!

Todo mundo na escola de italiano me perguntava se eu ja’ tinha visto a Fontana de Trevi, mas eu não sabia onde estava e fazia questão de caminhar sem mapa: outra coisa de gente doida; sabia que era no caminho de casa para a escola. Como o calor naquele período do ano é infernal – mas gente, infernal significa não poder sair de casa das 11 às 5 da tarde – eu saia bem cedinho para subir a Via Nazionale e, com intenção de me perder, um belo dia dou de cara de surpresa com a Fontana de Trevi. Eram 6 da manhã, tinha somente uns quatro policiais na rua, todas as lojas fechadas….que experiência! Realmente é o horario perfeito para passear por Roma! Quanto riram de mim depois, quando contei que tinha ido para lá naquele horário…

Fui ver uma grande retrospectiva de Caravaggio no Museu da Piazza Venezia e quanto aquela pintura me impressionou! Mais do que os Boticelli, os Michelangelo e outras maravilhas que tinha visto… foi o início de uma grande paixão! A mostra era bem completa e começava com a pintura da “La Buona Ventura”, passando pelo “Baco doente”, até a incrível composição da “Deposição do Cristo sobre a Cruz”. Que sorte aquela expo bem naquele momento!

As aulas iam, e eu me enrolei muito com a gramática no começo – como sempre! Fazia confusão com o resquício de espanhol que nunca tinha formalmente aprendido, mas ia passando os exames e fazendo amizade com os professores.

Uma coisa que aprendi bem cedo sobre a vida romana dos dias de hoje é o amor pelas manifestações políticas. A primeira que Lucia e Roberto me convidaram para ir, era contra as experimentações nucleares do então presidente francês Chirac. E em grande estilo o povo italiano encheu a Piazza Farnese (do lado de Campo de Fiori) onde tem a Embaixada Francesa e dançou, tomou vinho e protestou! Foi uma verdadeira festa!

demo - A cidade eterna: Roma
Uma manifestação no verão passado, na Piazza Navona – Roma, a Cidade Eterna

 

agua - A cidade eterna: Roma
Beba sim das fontes de Roma, a Cidade Eterna!

Fiquei muito amiga de Lucia, que até depois de muitos anos casou com um cara de Hamburgo, onde eu estudava, e adotou dois filhos. Infelizmente ela morreu de câncer nao muito tempo depois… era uma pessoa fantástica!

Daquele periodo selvagem, eu me lembro de estar sentada no meu quarto estudando italiano, saindo pra bater perna no final da tarde, comendo bolachas com mel, passeando pelo estranho bairro Copede, pelo Forum, São Pedro e sentindo falta da Arte contemporânea e da eficiencia alemã.

Até que o mês acabou, eu fiquei em Roma, mas tive que mudar de quarto, por que aquele era muito caro! E fui parar na Via Chiana, perto da Villa Ada. Mas isso é um outro post!

E você, por que quer visitar Roma – a belíssima Cidade Eterna?

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