Hoje conhecemos quatro “Pietás” criadas pelo grande gênio. Aqui vamos falar da primeira Pietà do Michelangelo Buonarroti.
Difícil falar de uma das obras mais significativas de todos os tempos como a primeira Pietà do Michelangelo… mas vamos começar do começo paranos aproximarmos aos poucos desta obraprima.
Curriculum Vitae de Michelangelo Buonarroti
No ano de 1492 Michelangelo presenciava a descoberta da América, a morte do Papa Inocêncio VIII (a ascensão do Papa Rodrigo Borgia), e a morte de Lourenço de Médici! Dizem que Michelangelo ficou tão abalado com a morte de seu amigo e protetor, que não conseguiu fazer nada por um bom tempo.
Michelangelo falsário
Alguns anos depois, Michelangelo fez uma escultura de um pequeno Cupido (hoje desaparecida), que foi vendida como uma falsa antiguidade através de um comerciante de Roma ao cardeal Riari. Riari descobriu que a sua aquisição era falsa e quis seu dinheiro de volta.
Apesar desta esdrúxula situação nasceu uma amizade entre os dois e em 1496 Michelangelo foi à Roma encontrá-lo. Assim que chegou recebeu do dito cardeal a sua primeira comissão para uma escultura em tamanho natural de um “Bacco”. Neste período Michelangelo estava hospedado na casa de um banqueiro chamado Galli. Ali mesmo, no pátio desta casa, ele trabalhou nessa escultura. O Galli parecia mais impressionado pelas habilidades do grande escultor do que o cardeal Riari, tanto que em 1498 foi o Galli que assinou o contrato para a comissão que transformaria a vida do Michelangelo: a Pietà para Jean de Bilhères.
A “Pietá”, tema que não está no Novo Testamento
O tema “Pietà” não está na Bíblia. Era um tema do norte da Europa, mais precisamente da Alemanha, mais precisamente ainda conhecido como “Vesperbild”: tratava-se de imagens devocionais de tamanhos diferentes com o Jesus morto nos braços de Maria. Este foi o tema escolhido pelo francês Bilhères para a sua própria sepultura. A escultura deveria adornar uma pequena capela na igreja de Santa Petronila, colada na Basílica de São Pedro.
Aspectos importantes para a compreensão da Pietà do Michelangelo
A primeira coisa que vemos e que é clara quando observada à distância é a forma piramidal. Padre, Filho e Espírito Santo formam três pontos, que por sua vez ligados formam um triângulo que indica que a cena alí representada está dentro de um conceito divino que transcende a dor (Prof. G.C. Argan). Jesus parece adormentado no colo de Maria, base do conceito cristão de morte, pois através do sono acorda-se para a vida eterna em Cristo.
A Virgem foi representada mais jovem do que o Jesus, já na casa dos 30, quase como se fosse uma previsão do futuro; a sua mão esquerda confirma e aceita a Paixão, a realização do fato consumado. Temos aí dois períodos de tempo nesta figura (Prof. G.C. Argan): a mão direita de Maria sustenta seu corpo mas não o toca diretamente; existe um tecido entre a mão da Virgem e o corpo de Jesus.
A Virgem está vestida em um modo muito mais próximo à uma Artemis do que à uma das tantas representação dos séculos XIV e XV (Mestre da Pietà Fogg, Beato Angelico, Masaccio) que provavelmente foram vistas por Michelangelo. A faixa que atravessa em diagonal o seu tórax tem a assinatura do artista, o que nos faz pensar que alguma motivação muito forte o levou a fazê-lo, pois ele não tinha o hábito de assinar as suas obras.
A perfeição da musculatura do corpo de Jesus nos confirma os estudos de anatomia feitos por Michelangelo, que rendem perfeitamente não só as proporções do corpo humano, mas a falta de tensão de seus membros e o peso do seu corpo. Comovente, na minha opinião, seu pé esquerdo suspeso no ar e sua mão direita, com o índice que desaparece nas dobras do manto da Virgem.
É um mistério o funcionamento da mente e das ações do gênio. Apesar de tentarmos circundar a dinâmica da criação desta obra tão pungente, não creio que seja possível aproximá-la o quanto gostaríamos. Resta-nos a difícil tarefa de contemplá-la na sua perfeição.
Uma das coisas mais gostosas da viagem à Itália é perceber continuidades e diferenças na arte e na arquitetura deste maravilhoso país. A viagem tem muitas vezes o sabor lúdico de um enorme e maravilhoso quebra-cabeças. Este post faz parte de uma bloggagem coletiva que está saindo hoje, junto com Magê e Babi, sobre as três principais, para mostrar pra você como nós nos divertimos neste país. A “Pietà Rondanini: Michelangelo em Milão” foi escrito pela Magê e a “Pietà Bandini – Consolação e Tormento de Michelangelo, post escrito pela Babi.
Se você também é apaixonado por Michelângelo, leia o post sobre a Capela Sistina!
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Kupper, D., Michelangelo, Leipzig, Rowohlt, 2004