Todo artigo sobre a culinária da Sicília que se preze, começa com a famosa citação de Lévi-Strauss:
“(…) A cozinha é o meio universal pelo qual a natureza é transformada em cultura.(…)”, O cru e o cozido, 1964.
Em todo o caso, fica como registro, curiosidade, pois quando penso em aromas e sabores ligados à minha amada Itália, ainda em ambiente francófono, não posso não pensar no “Aula” de Roland Barthes, que nos acompanha desde o Fórum Romano e vai até aonde você imaginar, sublinhando a raiz comum das palavras saber e sabor. A origem da nossa língua, usos e costumes está arraigada neste lugar: arraigado, fixado pela raiz, enraizado. Pronto, chegamos na terra e no ritmo dado à nossa vida através das quatro estações.
A terra vulcânica impregnada de silício e de todo o bem divino possível e imaginável faz com que os produtos desta ilha sejam simplesmente sublimes… imagino os primeiros colonizadores gregos de boca aberta após comer o primeiro fruto desta terra! Um eventual crescimento da população sobre um terreno escassamente cultivável pode ter sido a razão para o início de uma doce aventura que hoje chamamos de Sicília.
Os refrões desta terra são as frutas cítricas, a alcaparra, as azeitonas, o salsão, a uva passa, o pinólis, as folhas de louro, a amêndoa e o pistache; pois aqui nessa terra tudo que se planta nasce, cresce e floresce – e é bom demais, meu Deus!
Adoro verdura e um prato siciliano famoso é a caponata – um prato de preparação longa. Os ingredientes básicos são beringela frita, cebola, alcaparra, azeitonas, salsão, e em algumas zonas temos as variações com uva-passa e pinólis.
Nos arredores de Siracusa vamos comer um peixe azul muito bom. Típica é a pasta con le sarde, a pasta com sardinha, com uma uva-passa pequenininha que se chama passoline, erva-doce selvagem, cebola, pinólis e alçafrão. O prato é servido salpicado com pão torrado moído tostado – está dando pra entender o tamanho da encrenca?
Aqui são famosas as cultivações de amêndoas e o famoso Nero D’Avola. A granita de Siracusa tem a casca da amêndoa; a de Catânia, não.
Em Ragusa tem uma raça de vaca que só existe lá. Com o leite desta generosa vaca, produzem o famoso caciocavallo, um queijo curado D.O.P. que nem te conto, e que já era comercializado no século XIV; aqui também fazem uma focaccia chamada vota vota, uma espécie de pizza recheada com o interior da massa bem tenro.
A cultivação de oliveiras aqui na ilha é milenar. Acredita-se que as primeirars árvores foram introduzidas pela população micênica ou pelos fenícios.
Na maior ilha do mar Mediterrâneo temos, naturalmente, vários tipos de azeite: o da região de Siracusa, Ragusa e Catânia, que é meio frutado e picante; o azeite da região de Messina e do Vale de Demone é doce e mediamente frutado; o trapanese é um azeite muito forte, amargo e picante; o do Monte Etna é um meio-termo entre o siracusano e o messinês; o do Vale do Belice é frutado e com uma fragrância intensa; o do Vale do Mazara é levemente frutado com forte aroma herbáceo.
Palermo é famosa pelos seus rolinhos com queijo primosale (um queijo fresco com sabor muito delicado), cebola miolo de pão e folhas de louro; em Messina temos uma variação destes rolinhos, que aqui são feitos com peixe-espada, ou como nas sarde a beccafico, sardinhas recheadas com cebola, miolo de pão e folhas de louro, uva-passa, suco de limão e em algumas zonas até açúcar!
Palermo: https://www.romaemportugues.com.br/dez-razoes-para-ver-e-se-apaixonar-por-palermo/
Catânia: https://www.romaemportugues.com.br/o-museu-arqueologico-de-siracusa/
Museu Arqueológico de Siracusa: https://www.romaemportugues.com.br/o-museu-arqueologico-de-siracusa/
Trapani: https://www.romaemportugues.com.br/trapani-o-sal-e-o-vinho/