Esse Oráculo de Delphi devia saber tudo mesmo, pois indicou um verdadeiro paraíso aos colonizadores de Corinto aonde fundar a segunda nova cidade da península, no VIII século antes de Cristo: um porto tão perfeito, que parece um lago, uma ilha que facilitava a proteção contra inimigos, um solo fértil como nenhum grego ainda tinha tocado… e uma fonte de água doce fresca, que ainda hoje é ativa. Estamos falando de Siracusa.
Teatro Grego, Siracusa
A nossa guia conta…
A cidade de 120 mil habitantes de hoje não deixa passar despercebida a riqueza da sua história, que começa nas testemunhas das necrópoles do XIV século a.C., passa pela colonização grega e seus templos, para depois ser conquistada por romanos, árabes e normandos e assim “sofrer” ou “ser presenteada” por uma herança cultural que é rica como um mosaico e representa um patrimônio sem comparações.
Latomia do Paraíso e seus limoeiros
Escolhemos a preciosa área arqueológica, com o Teatro Romano, o Teatro Grego, a Orelha de Dionísio e a Latomia do Paraíso para começar. Incrível o massiço altar entre os dois teatros, que nos dá a dimensão da importância de Siracusa no passado áureo. Do alto do Teatro Grego, podemos ver pela primeira vez o panorama com o porto ao fundo – imagem de rara beleza com sabor forte de antigo e aroma de pinheiros, ciprestes, limoeiros e oleandros. Interessante ouvir da nossa guia os detalhes sobre as técnicas da construção do teatro, da mineiração dos gregos e das lendas ligadas a esse lugar.
Valeu a pena esperar tanto para conhecer uma guia tão especial, que é siracusana e aprendeu a falar português no Rio de Janeiro, especialmente para cuidar do viajante de língua portuguesa!
O antigo altar de Sacrifícios
Dentro da orelha – Orecchio di Dionisio
O passeio segue para o centro, onde percorremos a ilha “prometida”, Ortigia.
O porto parece um lago – água cristalina em diferentes tons de azul
Rodeada por um mar em alguns pontos azul clarinho, e nos mais profundos, azul escuro, a água nos convida insistentemente a mergulhar. E aqui começamos a entrar na dimensão sensual deste lugar.
E por que não fazer uma pequena pausa com a melhor granita de amêndoas da região?!
Granita, feita com amêndoas que não foram descascadas – ainda no Paraíso!
O templo de Apolo, o primeiro templo em estilo dórico construído na Sicília, é num primero momento indecifrável e de difícil contextualização por causa das escavações dos anos ’40; pede maiores explicações . O que teria dito Vitrúvio sobre proporções e euritmia? Interessante o sentido da construção do templo, leste-oeste, acompanhando o movimento do sol e com imediata associação ao nascimento e morte.
As ruínas do Templo de Apolo, construído no VI séc. a.C.
Aretusa, ninfa de Artemis, foi transformada em fonte pela deusa para fugir do amor de Alfeu; este, por sua vez, transformou-se em rio para encontrar a sua amada. Neste lugar vemos a Fonte Aretusa e quem tiver a sorte tocar esta água cantada pelos maiores poetas e contada pelos mais antigos historiadores… nunca mais será o mesmo!
A Fonte Aretusa
E quem sou eu, se não me levam num lugar subterrâneo?!
E que água!
Siracusa é marcada pelo barroco, pois apesar de não ter sido completamente destruída no terremoto, que danificou amplamente o Vale de Noto em 1693, foi reconstruída durante o século XVIII.
A praça do Duomo está tinindo, pois desde 2005 o centro inteiro de Siracusa é mais um maravilhoso patrimônio UNESCO.
Nós, na entrada do Duomo e um pedaço da praça
Entrar no Duomo é com certeza uma das grandes emoções desta cidade, já que a planta deste edifício pertencia originalmente a um templo dedicado à Atenas no VII século a.C., onde as colunas do antigo templo ainda estão de pé; as paredes foram restruturadas durante o período normando, e as capelas são do período barroco. Beleza que nos deixa extasiados e sem palavras.
Siracusa também é para pessoas prontas para se sentirem minúscolas!
Mais interior do Duomo
Para quem não sabe, Siracusa tem também um Caravaggio (na Igreja de Santa Lucia alla Badia); uma bela tela de 3m X 4m, realizada em 1608.
O ambiente escuro representa provavelmente as Caracumbas de Santa Lucia, onde a santa foi enterrada. Os personagens são a mãe que chora a morte da filha, os coveiros (que roubam a cena…), um pequeno e escondido auto-retrato e eventuais alusões a importantes personagens do tempo do grande maestro, que somente com enorme sutileza e interpretação tocam o tema da ressurreição da santa – aqui não podíamos fotografar.
A caminho de um bar gostoso para as nossas conversas de trabalho!
Finalizamos a nossa pequena panorâmica com este Caravaggio e um prosecco, com conversas sobre amendoieras, sobre o peixe na cozinha siciliana, a focaccia de Ragusa, o chocolate em “meia-lua” de Modica e a beleza das ilhas, no delicioso sotaque siciliano da nossa guia.
Em Siracusa vale também muito a pena ver o Castello de Eurialo, forte realizado no V-IV século a.C. por Dionísio I de Siracusa. Este monumento é um Patrimônio UNESCO desde 2005.
Obrigada Bettina, que conheci em 2008 quando trabalhava com turistas alemães, por me apresentar à super-guia siciliana que fala português! Obrigada Silvia M., que generosamente me recebeu na sua casa de praia ao sul de Siracusa!
Seguirão posts sobre o Museu Arqueológico de Siracusa e sobre a Galleria Regionale, com o famoso quadro da “Anunciação”, de Antonello da Messina.
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Mais sobre a Sicília: Catânia,
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Trapani Ginostra (Ilhas Eólias).
Culinária na Sicília, uma introdução.