Conheça a história da pintora cavaraggesca Artemisia Gentileschi. Depois de ter lido sobre a vida “pacata” de Caravaggio, podemos imaginar que ele não teve alunos, como muitos outros pintores que tinham um estúdio e muitas encomendas estatais. O que aconteceu é que a linguagem que ele acabava de inventar era tão forte, que muitos pintores acabaram por encorporá-lo no seu trabalho.
Orazio Gentileschi, “Judith com a criada”, 1611 – Pinacoteca Vaticana
Os pintores denominados caravaggescos são pintores do período barroco de diversas nacionalidades e aqui cito alguns nomes de alguns que gosto muito: Orazio Gentileschi, Andrea Vaccaro (que tem uma tela na coleção de “Barroco Italiano” do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e que é um senhor museu!), Niccolò Musso, Antoon Van Dyck, Francesco Rustici, Orazio Borgianni, Orazio Riminaldi, Pietro Paolini, Salimbeni, e Guy François.
Nicolò Musso, Calvário, ~1618 – Galleria Sabauda de Torino
Em Roma, muitas obras destes pintores podem ser encontradas na Galleria Nazionale d’Arte Antica, Galleria Borghese, Pinacoteca Vaticana e na Galleria Corsini de Trastevere.
Na lista acima falta uma… isto mesmo, uma pintora cavaraggesca que realizou obras incríveis: Artemisia Gentileschi. Você pode imaginar uma moça, pintora de sucesso em pleno século XVII na super-competitiva Roma dos papas?
Artemisia Gentileschi, “Judite decapita Holofernes”, 1620 – Uffizi
Artemisia (1593 – 1653) era filha de Orazio Gentileschi e foi modelo e aluna do pai. Teve uma vida muito difícil, pois com apenas 18 anos foi estuprada por uma pintor que era sócio do pai dela!
Autorretrato de Artemisia Gentileschi
óleo sobre tela, 98,6 x 75,2cm, 1638-39, Kensington Palace, Londres
Deopis desta experiência terrível foi defendida por seu pai, mas o escândalo defamou a jovem artista, que teve que deixar Roma e logo depois casou com um jovem pintor florentino e foi morar em Florença. No meio desta desgraça, a parte boa é que Artemisia pôde iniciar oficialmente seu estudo de pintura na Accademia delle arti del disegno, a escola de belas artes mais antiga do mundo, fundada em 1563. E ela foi a primeira mulher a poder estudar nesta escola!
Já em 1614 Artemisia teve a sua primeira comissão para a potente família Medici, um retrato da Santa Catarina de Alexandria que hoje pode ser visto no Uffizi. A artista também partecipou entre 1615-16 da decoração da Casa Buonarroti com uma imagem para o teto da galeria das pinturas – uma Alegoria do Talento.
Artemisia voltou à Roma em 1621, naquela época uma cidadezinha que era menos da metade das grandes Florença e Nápoles. Roma não reconheceu o talento da sua talentosa filha e a nossa super-estrela não recebeu nenhuma comissão para a recém-inaugurada Basílica de São Pedro.
Artemisia Gentileschi, “Martírio de São Genaro”, Duomo di Pozzuoli, Nápoles
Artemisia passou três anos em Veneza, onde teve algum sucesso, mas a cidade que reconheceu mesmo o talento desta estrela foi a grande metrópole Nápoles, onde existem vários trabalhos de Artemisia!
No meio-tempo papai Orazio Gentileschi trabalhava na corte de Carlos I em Londres, onde Artemisia realizou alguns trabalhos en passant junto com ele, na Marlborough House.
Obrigada, Pierre Dumonstier le Neveu, por ter feito em 1625 um maravilhoso desenho da mão de Artemisia Gentileschi segurando um pincel, que hoje está no British Museum.
“Mão direita de Artemisia Gentileschi com pincel”,
Pierre Dumonstier le Neveu, 1625 – British Museum
Artemisia morreu em Nápoles em 1653 e foi enterrada no cemitério de São João dos Florentinos – a sua lápide onde estava escrito simplesmente “Heic Artemisia” desapareceu há algumas centenas de anos…
Artemisia Gentileschi, “Judite com a criada”, ~1618,
óleo sobre tela, 114×93,5 cm, Palazzo Pitti, Florença
Adoro tudo o que ela pintou e tenho uma preferência pela “Judite” (aquela que está nos Uffizi) mais do que todas as outras versões deste tema. Acho a composição dos personagens que formam um triângulo com a ponta para baixo incrível, o jogo dos braços dos três, a expressão certeira e consciente da Judite e da sua cúmplice … para não falar na fantástica e exímia representação dos tecidos das roupas e sobre o qual está deitado o Holofernes. Cuidado, pois o sangue espirra em todas as direções!
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