O batistério de Florença fica na Praça San Giovanni, no centro histórico de Florença, numa área que é também chamada de “Complexo Religioso” e é uma das estruturas mais enigmáticas da história da arte.
A sua fundação segundo a tradição religiosa teria sido entre os IV e V séculos; os documentos, por sua vez, nos mostram que existia uma “Igreja de São João” no IX século; que o papa consagrou o batistério no ano de 1059 – um edifício nuovo em folha ou um restauro de uma estrutura que já existia? Não se sabe! No início do XII séc. encontramos a informação que São João é o único batistério de Florença. Fato seguro por conta das escavações é que foi construído sobre uma domus romana (mansão de família rica) e hoje podemos ver parte dos mosaicos bicolores desta antiga casa através de grades inseridas no piso.
Roma e Florença intrisecamente ligadas desde o nascimento de Florença
Como escrevi no post anterior sobre o batistério de Roma, e Roma e Florença são cidades extremamente ligadas entre si, pois Florença foi fundada por Roma no I séc. a.C.. Em 476 d.C., quando caiu o Império Romano, Florença sofreu muito e por mais de 500 anos foi esquecida, tendo a sua população reduzida a apenas 30.000 habitantes. A “potência medieval Florença” terá uma ascensão inelutável a partir do século XII até se transformar na capital mais importante da Europa, com mais de 100.000 habitantes. A sua urbanização e seus monumentos nos mostram isso até hoje. É por isso digno de nota, além de ser uma atividade imperdível, visitar o seu monumento mais querido pelos florentinos: o batistério de São João.
Batistério de Florença, arte e arquitetura
A planta octagonal com meridiana inserida na cúpola nos mostra a influência do edifício romano mais importante que chegou até nós: o Pantheon.
O lindo revestimento do seu exterior é feito em verde serpentino de Prato e mármore branco, reutilizado de edifícios romanos, portanto as lastras não são idênticas. Os oito lados são divididos em três registros que nos mostram um conhecimento da arte romana da parte do arquiteto, que utiliza arcos de volta perfeita, praticamente inexistentes em edifícios da Idade Média fora de Florença, e janelas decoradas com tímpano triangular e arco, alternados; um verdadeiro unicum na arquitetura daquele período.
A “scarsella” (termo que indica ábside quadrada, neste caso redesenhada no início do séc. XIII) possui a decoração em mosaico mais antiga do batistério, pois foi realizada em 1230, por um artista de nome Fra Jacopo (que não é o “nosso” Torriti da Santa Maria Maior, como afirma erroneamente o Vasari). A decoração aqui representa Maria e São João Batista.
O interior da cúpola é repleto de mosaicos em pasta di vidro e ouro e cobre uma superfície de mais de 500m² com estórias do Antigo e do Novo Testamento. Aqui trabalharam os maiores artistas dos séculos XIII e XIV: Cimabue, Coppo di Marcovaldo, Gaddo Gaddi, Maestro della Maddalena e o Ultimo Maestro del Batisttero.
O piso do batistério de Florença é coberto por um tapete de mosaicos em mármore, eventualmente realizados por mosaicistas romanos em estilo cosmatesco com figuras geométricas e um zodíaco, que ficava originalmente perto da porta Norte e era iluminado no solstício de Primavera através do orifício colocado na sua cúpola. A pia batismal, por ser tão antiga não era uma pia, mas uma bacia, pois na aurora do Cristianismo o batismo era feito por imersão e não aspersão; infelizmente Francesco I de Medici mandou cobrir a antiga bacia para que se abrisse mais espaço no interior do batistério em ocasião do batismo do seu primeiro filho com Joana D’Austria.
Um altar de prata ficava na scarsella. Hoje esta obra pode ser vista no maravilhoso Museo dell’Opera del Duomo, assim como todos os originais do Complexo Religioso (portas do batistério, esculturas do Campanário do Giotto e Duomo)
Os famosos portões do Batistério de Florença
Os famosos portões do Batistério de Florença merecem um post à parte, pois aqui iconografia, comissão e momento histórico de Florença são importantes demais para serem deixados em segundo plano. Portanto, agora, vou somente elencar os assuntos tratados: em ordem cronológico são: Andrea Pisano (Sul, porta mais antiga, 1333), Lorenzo Ghiberti (Portão Norte 1403-1424) e de novo Lorenzo Ghiberti ( Portão Leste, 1425-1452). A contribuição para a história da arte destas peças é sem igual e o primeiro portão do Ghiberti marca o início do Renascimento.
Andrea Pisano, toscano de Empoli e colaborador de Nicola e Giovanni Pisano, realizou as estórias de São João Batista. O primeiro portão de Ghiberti mostra estórias do de Cristo e 8 Virtudes. O último portão do Ghiberti nos conta estórias do Antigo Testamento e a última lastra de bronze representa o encontro do rei Salomão com a Rainha de Saba.
À parte tudo, o batistério de Florença é o monumento florentino por excelência, o mais adorado pelos florentinos. Diria que numa vinda à Florença é imprescindível visitar o seu interior!
Curiosidades
1) Existe uma estrutura no segundo andar que era dedicada às mulheres e chama-se “matroneo”. A decoração secundária é em mosaicos, mas aqui encontramos os afrescos mais antigos da cidade de Florença, com temas paleocristãos.
2) No ângulo sul-ocidental do batistério, na parte inferior à esquerda encontra-se uma lastra funerária romana que foi utilizada na construção do batistério.
3) Dante Alighieri, que nasceu em 1245, viu a finalização dos mosaicos da cúpola, e muito provavelmente o seu “Inferno” foi influenciado pela força das imagens dos grandes mestres que aqui trabalharam.
4) Michelangelo também frequentou o Batistério de Florença!
Endereço:
Piazza San Giovanni, 50122 Firenze FI
Ingressos: €18 por pessoa, a serem comprados antecipadamente no site oficial https://www.ilgrandemuseodelduomo.it/monumenti/3-battistero
Fotos: Tapete mosaicos, mosaicos cúpola, http://www.wikiwand.com/it/Battistero_di_San_Giovanni_(Firenze)
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